Excerto do meu livro "O Barulho do Silêncio"

"(...)Ali escutava o barulho do silêncio, apenas interrompido pelo ruído de algum carro que passava e pelo som da natureza. Era uma busca interior, de força e coragem que tantas vezes me faltava. Por vezes, o agitar das folhas daquele sobreiro quando o vento soprava de mansinho, parecia dar-me conselhos, uma coisa me dava com toda a certeza. Alguma paz e era disso que eu mais precisava, paz! Sentei-me mais uma vez naquela pedra branca e lisa, afagada pelo vento, polida pela chuva, talvez milenar, quantos ali já se haviam sentado? Uns desfrutando da sombra, outros abrigando-se da chuva, outros como eu, apenas meditando… por baixo da copa daquele velho e único sobreiro que existia nas redondezas. Sentado na velha pedra, que já devia conhecer o calor do meu pequeno corpo, quase deitado, com a cabeça encostada ao tronco da árvore, contava as bolotas, olhava as folhas, não sei se as via. Havia semanas que não parava de chover a terra estava, enlameada as velhas botas enterraram-se, não me importei. Fiquei preso á terra. O vento soprava direito á minha cara, como que a querer acorda-me dos meus pensamentos, uma bolota caiu-me em cima da cabeça, como se o vento não basta-se para me despertar, dei um salto, mas não consegui levantar-me, a terra tinha-me agarrado pelos pés. Estavam presos, presos à terra mãe que tudo dá e tudo tira. Perguntei á bolota, porque me queria acordar dos meus pensamentos? Perguntei ao vento, porque me afagava a cara? O vento respondeu que era apenas o mimo que eu precisava. A bolota disse que era um carolo de ânimo. E assim, com um fresco mimo, e um carolo á mistura, acordei dos meus pensamentos. Levantei-me e percorri sem pressa de chegar, o caminho que ainda faltava para me levar até casa. Aquele local passou a ser o meu local de refúgio, ficava perto da estrada, mas tinha uns arbustos na frente que tapavam a sua visibilidade. Era ali que reflectia, mesmo quando a noite já havia caído, não tinha medo, por entre a ramagem e as bolotas, contava as estrelas, ali no campo o céu parecia mais estrelado do que em Lisboa, ou seria impressão minha? (...)"

Adelina Soares
Enviado por Adelina Soares em 21/03/2013
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