DEGUSTAÇÃO
Degustar-me não é fácil, amigo,
Há em mim, quase sempre, o sabor enjoado, passado dos limites,
de fruta verde que se morde lentamente.
Sob a língua, o amargor destrambelha os sentidos.
Por vezes, ardo.
Os rios do mundo despejados podem aliviar por segundos
e volto a queimar.
Se, porém, juntar a fome e a paciência,
banhar tudo com ternuras,
se souber misturar os olhos,
trocar os pés pelas mãos,
molhar a palavra em minha boca
e me desnortear
posso ser pêssego maduro
e doçura embriagando o mundo
que havia em torno de nós.