A rua
Umas casinhas apertadas embonecadas de detalhes. Flores e folhas engoliam portões brancos, descascados, baixinhos – assim, de interior, sabe? -, indo deitar sobre a gente da calçada. Azulejos desenhados de caleidoscópio nasciam feito flores no asfalto – eita que isso me vira um poema, se bobear.. – e estavam lá pra botar louco quem passava mirando o chão na cara dura. A vontade era de escorregar pelas curvinhas dos portões o indicador, como se as estivesse a desenhar eu mesma. E se eu me fosse sentar no banco de praça, lá na rotatória do final, servir-me-iam chá e biscoitos ainda quentes de forno. Amoras havia, setembro. Agora, juro-te, senti cheiro de maçãs. Assim, sem mais nem menos, em lugar duma casa, abriu-se caminho pra rua do lado. Não era viela. Jardim de pedra e tinta, uma passagem que gritava a coisa mais linda da gente que passa. Como é próprio dos lugares, contando histórias e tramoias dessas que me confundem espaço e personagem. Deve se ter tanta gente naquelas paredes que me fizeram confortável. Acho também que, de muito íngreme, o asfalto se fazia tapete da casa dos pais. A gente, em pé, estava já quase deitado, esparramado.