Aborto

O siso mete o dedo na cara do devaneio, acusando de acenar com o amor que não veio; esse defende-se perguntando o que tem, se mesmo o siso, às vezes tem esperança também.

Esperança é um mar, que a alma nada para deixar para trás, a ilha prisão da depressão; as que temem a travessia inda jazem lá, com suas módicas rações de água e pão...

O desprazer do prazer que não veio, é a acusação que pesa contra o devaneio; a dor certa que se teria estabelecido se o sonho tivesse dormido, será o melhor argumento da defesa; pois mesmo uma espera vã, enquanto vigente é lenitivo à tristeza.

Quando os fatos aprovam o aborto do filho que esperança gestou; pois o feto do devaneio nasceu morto, na verdade o destino abortou; o jeito é seguir o curso e fechar a porta do insano desejo; nem ver mais possibilidades, onde a ilusão punha a faca e o queijo.

Mas, esse olhar que duvida do estio e inda fantasia com águas do lado que a chuva vem;

Acaba concebendo nova criança, às vezes penso que não tenho esperança, é ela que me tem...