Doralice
E os pés, a vida toda esparramados pelo chão seco, terminaram por ressecados também. Falo deles que é neles que punha os olhos ao caminhar. Vinham agora metidos em sandálias avelhentadas que por pouco seriam a terra quente dali. Dum pedaço de pano florido fizera-se o vestido de cortes tortuosos na mesma cor do laço que trazia nos cabelos de sol.
Desta vez, o corpo magricela, tocado de um brio jamais experimentado, animou-se um tanto mais. Postou, com três dedos de cada mão, as madeixas por trás das orelhas, deixando ver um rosto um tanto moço para aqueles pés. Sentou-se frente à mesa, mirando o caderninho com capa de pano e perguntou à senhora do outro lado sobre o preço. Deixou escapar entre os dedos umas cinco moedas e pôs-se a ditar o que levaria a carta ao amado sertanejo. A senhora registrava palavra a palavra o borboletear ansioso do que havia a moleca a dizer.
Posso pegar o papel e a caneta um minutin?
Agarrou, desengonçada, a caneta e desenhou cheia de si: Doralice.