Venha ver o silêncio que você sempre fez
vir morar com a angústia dentro de mim.
Venha ver a falta que às vezes você me faz,
capaz de me deixar pequeno e vazio assim.
E mais, vem olhar só mais um pouco para trás
para vermos enfim do que nem começou o fim.

E eu só sou triste porque minha tristeza não tem para onde ir...

Tudo que me lembro são restos, destroços, pedaços
de um todo que era feito inteiro de esquecimentos,
metade de mim é minha, outra metade erva daninha,
metade minha de puros sentimentos, meus lamentos,
outra metade que não sei são distantes acontecimentos,
que eu não sei se aconteceram ou são só invenção minha.

Mas não se engane ao me ver, não vá se compadecer,
pode ser que eu tenha me tornado maior do que nunca fui,
maior que a pequeneza dos ermos caminhos de mortas ruas
e repleto, pleno talvez de tanta coisa que não são mais suas.

E eu só sou triste porque essa tristeza não quer ir passear na rua...

E não passo o tempo construindo frases que vão desabar lá adiante
palavra por palavra, palavras por todo lado, espalhadas, desperdiçadas.
Confundo poemas e pensamentos, vontade e sentimentos,
confundo a beleza do momento que é belo apenas por um momento
com a certeza eterna de mais um esquecimento...

E eu só sou triste porque essa tristeza não me deixa esquecer que sou...

E fico em paz como alguém que não quer lutar mais,
vou arar os campos, preparar a colheita, arrumar a cabana,
eu fico em paz como alguém que sabe que já viveu demais,
vou ver a chuva, as tardes silenciosas, as noites misteriosas,
vou ver o fundo do mais fundo do fundo de mim mesmo,
onde andei lutando tanto essas vãs batalhas e tanto a esmo.

E eu só sou triste porque nunca aprendi na vida a ser outra coisa...

Venha ver então a falta que você me faz, quando faz, se é que faz,
venha ver e depois pode ir para sempre sem ao menos olhar para trás.
Venha ver ainda o mal que você me faz, quando faz, se é que faz,
depois esquece e sigamos cada qual o seu caminho se houver paz.
Venha ver, que mal nenhum não faz isto de tanto amar
e ter de seguir adiante sem nunca olhar para trás...

E eu só sou triste porque sempre estou olhando para trás...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 10/03/2013
Reeditado em 25/04/2021
Código do texto: T4181035
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