Manual hermético sobre sexo
Para se usufruir o clímax de um perfume, não se pode cheirá-lo imediatamente após a borrifação. Há de se sentir o toque sutil do líquido volátil: sua pluralidade, sua acidez, sua exalação; sua fusão com os óleos corpóreos, as calêndulas e lavândulas que florescem das glândulas. Deve-se arrepiar com o sopro dos lábios de brisa, nas vias que se podem espalhar da poção...
Importante ressaltar que é profano provar a amostra num papel. Coisa artificial emana notas falsas. A essência está para a cútis assim como o pelo para a púbis (e Anúbis fareja na farta mata a espera da morte que ressuscita num átimo).
Deve-se, assim, aspergi-lo, com suavidade, em horizontais movimentos circulares, desenhando um oito infinito sobre o pulso, sob o qual vibra a veia e flui o sangue... percebendo a textura e a temperatura resultantes da mistura. As notas evaporarão sutilmente num eco até a cabeça e entrarão nas narinas, sem Dó nem Ré. Sol Lá.
Não há urgência. Renda-se à primeira essência e depois à quintessência extraída dos quatro elementos do corpo.
Magnificência etérea.
À noite, entre velas e incensos, oh-dores orientais! Sobre a madeira, flores enfeitam uma cesta de frutas cítricas. Frascos condimentados ao lado dos quais um almiscareiro brinca com um âmbar. Ao fundo, após o verde, anuncia-se o último sopro marinho.
O coração bate com a artéria qual chicote sobre os membros que pulam, arfam, arquejam: efeito psicodélico de um peiote. O ultimo galope do garanhão culmina na colina das costas arcadas. Cada gota de suor vaporiza em neblina que ascende em fer-anônimos, névoas de afã...
Eua de parfum.