A inevitável ilusão convencional.

De fora assisto à vida dos outros.

Embora não me encontre por dentro,

reconheço um pouco de mim em cada casal,

brigando numa esquina qualquer,

esquecido do mundo.

Unido pela fé do fazer dar certo.

Exercendo a beleza do que realmente importa,

brigando por amor.

Apenas observo. Não vivo.

Atrai-me o tudo.

E nessa eterna inquietude, reluto em deixar passar o tempo,

que nem certo,

muito menos a contento,

teima em levar pra longe minha juventude.

Deixo a rotina pros casais.

Não sou avesso,

apenas deixo pra lá e tento me convencer que não é pra mim.

Afinal estou sempre nessa,

se não possuo o que quero,

também não quero o que possuo.

Contudo, tal clássico dilema, até me agrada.

Se tiver amor,

que não seja óbvio como esta rima,

mas que tenha também ,

aquela dor que me fascina,

pra só assim virar poesia,

ter sabor, adrenalina.

É quase uma heresia, mas quem mordeu a primeira maçã,

fundou a vã ilusão fundamental.

O pecado ideal do amor.

É nosso lado mais positivista e masoquista,

todos temos.

Então que tenha dor, que faça chorar,

que passe de paixão!

Agora,

se ele me faltar

e com vigor eu bradar aos ventos que carregam o romantismo,

que já não cismo.

Se acaso, sem mais ardor reafirmar,

que já não necessito,

que me basto.

Que o lastro deixado entre o último e o nada de hoje me consumiu.

Se tal dia chegar, espero acordar,

pois de certo,

não haverá pesadelo maior,

do que habitar no limiar dessa loucura sem amar.

Se for normal,

se o mal do amor convencional me alcançar,

declare minha queda.

Enganado e feliz,

viverei pelo limbo da vida,

sem mais tentar a nada entender.

Apenas ser.

A morrer....morrer....morrer...

Raphael Moura
Enviado por Raphael Moura em 04/03/2013
Reeditado em 21/12/2014
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