Ai, aquele sentimento inexplicável...
Sabe aquele sentimento inexplicável que toma conta da gente quando lemos? É como uma música de amor! Um dia, pensei que eu seria para sempre uma menina com uma flor. Que eu seria para sempre a menina com uma flor de alguém. E quando eu lia Vinícius, era como se o mundo se abrisse a uma luz tão minha. E só eu conseguia perceber aquele fenômeno: lindo e doce. Era tão bonito de se ver! Meu coração enchia de uma felicidade que não cabia mais em nada. Até as rosas da minha rua, coitadas! Nem sabiam, o que era ser poeta, mas ,ainda assim, notavam que algo mudava. As pétalas iam abrindo lentamente, se enchendo de cor e perfume. Era tudo tão sincronizado que ensaio nenhum seria capaz de reproduzir tamanha delicadeza. Os pássaros, que habitavam provisoriamente um ninho feito na luminária, paravam por um instante de alimentar os filhotes. Ai, como era bonito de se ver!
Hoje, parece que tudo se perdeu. E A Menina com uma flor de Vinícius não desperta mais nada de feliz, de puro ou de luminoso. A menina parece que se perdeu em um redemoinho de lamentações, erros e arrependimentos. E de um sentimento tão bonito que se tinha, só me resta a nostalgia de uma poema que passou, de uma prosa poética que parece que nunca existiu. Fecho os olhos todas as noites e busco sentir o cheiro, pelo menos, só mais uma vez daquele momento. Observar as cores, gravar a leveza com que tudo ia acontecendo, tocar uma vez mais nas cores que se abriam lentamente como fios de ouro saindo de cada palavra. Ai, meu Deus! Era tão lindo de se ver! O que me resta são os olhos encharcados de um passado que congelou diante de mim, sem pressa e nem medo de se perder.