PARTIDA
Quando chegar o dia do adeus,
saberão os famintos
que o dia finda
Saberá a viúva
que o amado repousa,
e os filhos
saberão que o pai não retorna
As estrelas
saberão que promessas serão feitas
O sol saberá
que a morena banha
Quando chegar o dia do adeus,
desculpas serão pedidas,
abraços mais apertados
Corações sangrarão; de amor
No metrô lotado
não se exige educação
Todos tem pressa de chegar
Pesadas bolsas
levam guloseimas e livros de auto-ajuda
Precisa-se de magos
para mostrar o caminho da felicidade
No metrô lotado,
quando chegar o dia do adeus,
mulheres e filhos e esposas
ficarão na plataforma; chorando
Ó cais
que reconheces o mar e o barco que avança
Cais,
paragem de donzelas
a esperarem a volta que não vem
Choram e soluçam e esperam
Lenços flutuam ao vento
e as ondas levam esperanças
e não trazem histórias; saudade
Mar de guerreiros e piratas
Mar dos descobridores
e dos poetas esquecidos
Mar de Pessoa e Navio Negreiro
Tu, mar sempre mar
não sabes em que praias
depositarás sonhos secretos?
Sonhos desfeitos
Sonhos realizados
No metrô lotado
sonhos adentram o túnel
e o silêncio toma conta
Todos tem pressa de chegar
por mar ou trilho
Todos tem que chegar