"SIM,MEU CARO POETA"

    "Sim, meu caro poeta, o
entardecer se aproxima,e os teus cabelos já
estão ficando brancos...O que estás
ouvindo no teu solitário ruminar? Ouves a
mensagem da vida futura?"
      
   " Não---Responde o poeta---
Embora seja tarde, estou atento, ouvindo se
alguém me chama da aldeia. Estou velando
para ver se dois jovens e errantes corações
se encontram, e se dois pares de olhos
ansiosos mendigam a música que rompa o
silêncio e fale por eles...Quem iria compor
suas canções de paixão se eu me
assentasse à margem da vida,
contemplando a morte e o além?"

   "A estrela vespertina já desaparece, e
a chama da pira funerária lentamente se
extingue junto ao rio silêncioso. À luz
tênue da lua,os chacais ululam em coro
no pátio da casa deserta... Se eu fechasse a
minha porta, tentando livrar-me dos meus
laços mortais, o que seria do andarilho que
 sai de sua casa para observar a noite e
ouvir, de cabeça inclinada, o murmúrio da
escuridão? Quem lhe sussuraria no ouvido
os segredos da vida?"

     "Não importa que  os meus cabelos
estejam brancos.Eu sou tão jovem
ou tão velho quanto o mais jovem ou o
mais velho homem da aldeia. Alguns
sorriem, com doçura e simplicidade;outros
possue um malicioso brilho nos olhos.
Alguns derramam suas lágrimas durante
o dia; outros escondem o seu choro na
escuridão da noite...Todos eles precisam
de mim, e não tenho tempo a perder com as
questões sobre a vida no além. Eu vivo em
sintonia com a idade de cada um.
O que me importa se os meus cabelos estão ficando
brancos?"


CANTO II-----O JARDINEIRO,  DE R. TAGORE
A foto é do autor, vinda do google.










 

Jeane Diogo
Enviado por Jeane Diogo em 26/02/2013
Reeditado em 26/02/2013
Código do texto: T4160157
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