Pela estrada

Ele madrugava...

Foi um dia tão longo .Não sabia por mais quanto tempo ficaria em pé. Quantas eras passariam para que o sol pudesse voltar...

Queria revisitar um lugar, o tempo, as palavras, mas a sensação de conviver com o presente era tudo que tinha

Suas mãos agora pareciam intocáveis. Sentia-se sujo para vestir os mesmos trajes

A existência de uma cura era a utopia mais grave...a fonte da juventude, o poço dos milagres. Sem querer fechou o cadeado e não conseguiu usar nenhuma de suas chaves.

No fim do dia, conseguiu dormir apenas o olhar...que não sabiam mais onde estavam

Havia um ceú noturno desenhado numa folha opaca. Indiferente ao tempo e ao lugar, disperso no espaço que traduzia-se em nada

Seja qual fosse o tamanho da dor, teria que levá-la pela manhã desacordada.

Ele arrumava as malas...

O rosto cansado, os olhos ardentes como se estivessem próximos de uma fogueira

O corpo calejado, os sonhos dormentes como se a mente negasse a realidade

Ele, desajeitado, despreparado, amordaçado pelos próprios erros

Queria que aquela condução o levasse para um mundo diferente antes de chegar em casa

Um lugar onde pudesse banhar em um rio que lavasse as culpas para então enxugar a alma

Ele via pela janela, procurava distrações para o seu pensamento de martírio

Quantas doses o fariam esquecer o que não havia conseguido?

Ele viajava...Num caminho de abandonos, noites de insônia e alvoradas embaçadas

De qual tamanho fosse a dor, ele teria que levá-la pela estrada...