O medo e o Silêncio
Tem horas que eu não tenho vontade de música nem de filme. Não tenho vontade de poltrona ou de janela. Tem horas que eu tenho vontade de silêncio e de café, café com silêncio sem açúcar. Então eu pego papel e os cadernos, empilho uns livros para conversar, uns livros assim de gente boa de prosa e de poesia e fico ali no meio deles, entre goladas de café, inventando que sou no meio deles um como eles. E sei que o melhor de tudo não é poeta ler poeta, poeta escutar poeta, poeta falar com poeta. Tem umas horas que o melhor de tudo é poeta fazer silêncio com outro poeta e voar neste silêncio. Porque neste silêncio, num silêncio desses, vamos dizer, deve de ter água de cachoeira e céu azul, canto de passarinho e pio de coruja, assobio do vento, estalar de folha seca e até trovão. E barulho de chuva, é claro, que poeta que é poeta de verdade não pode perder de ouvir um barulho de chuva, até em dias que nem está chovendo. Barulho de chuva faz a gente cair num buraco que nos leva direto para o tempo de criança, que era quando a gente vivia de verdade a poesia, só que não sabia e ainda não escrevia.
É engraçada essa vontade de café. Café com silêncio, café com solidão, café com saudade, café com você. E tantas vezes por ora não sei até quando café sem você, café apesar de você. E se um dia eu não tiver mais nada vai ser café com o quê? Café com mais nada...
E para fazer silêncio, mas um silêncio de verdade, silêncio absurdo e absoluto, um resoluto silêncio, um silêncio impoluto, não é qualquer um que consegue, pois que tem de ser mais forte do que acredita que realmente é, ousado também, abusado até, obstinado, mais corajoso do que o mais idolatrado deus ou herói.
Porque tudo se esconde no silêncio, as alegrias, as dores, as tristezas, os amores. E os medos, que a cada um deles convém ser maior que o outro, e até o que é menor quer ser maior do que o que é maior que ele, que não quer ser menor, o que dá para perceber que até nos medos tem de haver essa confusão dos diabos, se bem que todos os medos são medos bem conhecidos nossos de como são porque sabemos que são e só nós sabemos como são esses medos, uns mais importantes e outros sem importância nenhuma, até aquele medo que nunca admito que tenho, mas tenho, que é o medo de dizer que eu te amo.
Voltemos ao silêncio, que é muito melhor. Mas nem é assim de qualquer jeito que se faz silêncio. Tem que tomar banho, trocar de roupa, botar perfume, pentear o cabelo. Acender um incenso, que fumaça não faz barulho e se for dançar pela casa tem que ser de meias com uma música muito linda, mas imaginária. E pode deixar falar o pensamento, que fala dentro do silêncio aproveitando-se do silêncio e somente no silêncio. E pode também olhar a lua, que o olhar é o fenômeno mais silencioso que existe e, portanto, é a declaração de amor mais próxima do silêncio que se conhece.
Tem horas que eu não tenho vontade de música nem de filme. Não tenho vontade de poltrona ou de janela. Tem horas que eu tenho vontade de silêncio e de café, café com silêncio sem açúcar. Então eu pego papel e os cadernos, empilho uns livros para conversar, uns livros assim de gente boa de prosa e de poesia e fico ali no meio deles, entre goladas de café, inventando que sou no meio deles um como eles. E sei que o melhor de tudo não é poeta ler poeta, poeta escutar poeta, poeta falar com poeta. Tem umas horas que o melhor de tudo é poeta fazer silêncio com outro poeta e voar neste silêncio. Porque neste silêncio, num silêncio desses, vamos dizer, deve de ter água de cachoeira e céu azul, canto de passarinho e pio de coruja, assobio do vento, estalar de folha seca e até trovão. E barulho de chuva, é claro, que poeta que é poeta de verdade não pode perder de ouvir um barulho de chuva, até em dias que nem está chovendo. Barulho de chuva faz a gente cair num buraco que nos leva direto para o tempo de criança, que era quando a gente vivia de verdade a poesia, só que não sabia e ainda não escrevia.
É engraçada essa vontade de café. Café com silêncio, café com solidão, café com saudade, café com você. E tantas vezes por ora não sei até quando café sem você, café apesar de você. E se um dia eu não tiver mais nada vai ser café com o quê? Café com mais nada...
E para fazer silêncio, mas um silêncio de verdade, silêncio absurdo e absoluto, um resoluto silêncio, um silêncio impoluto, não é qualquer um que consegue, pois que tem de ser mais forte do que acredita que realmente é, ousado também, abusado até, obstinado, mais corajoso do que o mais idolatrado deus ou herói.
Porque tudo se esconde no silêncio, as alegrias, as dores, as tristezas, os amores. E os medos, que a cada um deles convém ser maior que o outro, e até o que é menor quer ser maior do que o que é maior que ele, que não quer ser menor, o que dá para perceber que até nos medos tem de haver essa confusão dos diabos, se bem que todos os medos são medos bem conhecidos nossos de como são porque sabemos que são e só nós sabemos como são esses medos, uns mais importantes e outros sem importância nenhuma, até aquele medo que nunca admito que tenho, mas tenho, que é o medo de dizer que eu te amo.
Voltemos ao silêncio, que é muito melhor. Mas nem é assim de qualquer jeito que se faz silêncio. Tem que tomar banho, trocar de roupa, botar perfume, pentear o cabelo. Acender um incenso, que fumaça não faz barulho e se for dançar pela casa tem que ser de meias com uma música muito linda, mas imaginária. E pode deixar falar o pensamento, que fala dentro do silêncio aproveitando-se do silêncio e somente no silêncio. E pode também olhar a lua, que o olhar é o fenômeno mais silencioso que existe e, portanto, é a declaração de amor mais próxima do silêncio que se conhece.