O Silêncio e o Pé na Bunda
Foi quando eu tomei o meu primeiro pé na bunda que aprendi este meu silêncio. O orgulho ferido,a mágoa, a vontade de gritar? Não! Silêncio. Tapa na cara, cuspida, desprezo e descaso, a imposta indiferença, o asco que os outros aprendem a ter, o sentimento de inferioridade e tudo, tudo se mata com uma boa dose de silêncio. Há que se ter vocação para o silêncio. Não é para qualquer um, nem para todos. É para bem poucos dentre tantos que imaginam viverem no silêncio e com o silêncio.
Foi depois de muito gritar que aprendi este silêncio. E que palavra e verso estão dentro do poema que nunca avisa que vem e, quando vem, vem sorrateiro, súbito, imprescindível, inadiável. Tem que ter sempre ali à disposicão bem do lado uma prancheta com papel boquiaberto e paciente para uma longa espera, quando necessário. Um papel virgem de tudo, sem mancha ou sem outra intenção de um outro uso, livre de cor, de coisa escrita, branco como convém à coisa pura. Porque senão o poema foge, carregando consigo a palavra e o verso. E a gente nunca lembra...
Pois é. Mais difícil do que fazer silêncio é quebrar, quando for preciso, o silêncio.
Creio que só poeta bom não precisa disso de papel e prancheta e dessa prontidão para escrever, porque vive amasiado com as ideias, assim amancebado com a inspiração. O poeta bom vai se deitar toda a noite com a poesia e com ela se levanta toda manhã. Toma banho, café, troca de roupa e saem para passear. A poesia é essa mulher zelosa que tudo vê e tudo sabe, que cuida de tudo.
Foi depois do meu primeiro pé na bunda que aprendi essa coisa de leveza. Daí que quero estar sempre leve, quanto mais leve melhor.
Aqui em casa, eu que não sou desses poetas dos bons, não sei escrever de sapato, porque os pés, quando presos, cobertos, atrapalham o diálogo com o chão e dessa forma atrapalham o voo. Sim, porque quem quer voar tem que conhecer o chão. É para onde vai voltar.
Então eu tiro os sapatos e tiro também as roupas pesadas e troco por umas assim bem largas, feito o hábito de um monge, justo eu que não tenho mais o hábito dessas coisas de reza e meditação, de pensar no além que fica além do que o meu olhar já chegou, quando pousou no bem distante para descansar de tanto ver e ver sempre mais do que se pode ver, quer ver dói e fere, coisa assim de por dentro da gente, onde a gente não vê e não sabe, não percebe.
Gosto de vela acesa pela casa, por causa do fogo, que sei que é mágico e encantador. Gosto também de animal que cospe fogo, mas acredita-se que estejam extintos e os que eu criei eram livres para ir e voltar ou não voltar.
Depois do meu primeiro pé na bunda aprendi a gostar do fogo. Porque o fogo destrói, transforma, prepara, purifica...
Depois do meu primeiro pé na bunda não fiz mais silêncio. Mas foi só depois do terceiro ou quarto que aprendi a gritar. E quando gritei era música, poesia. Então quer dizer que aprendi a escrever, sentir antes disso e vivenciar antes de sentir, não sei, tudo isto junto assim misturado na bagunça da caixa do que não sei que derrubei junto com a caixa do que sei. Agora não sei mais o que sei e o que não sei.
Depois daquele pé na bunda aprendi que as coisas pesam. E pesam porque a gente tem que carregar e vive carregando o que não precisa mais, o que nunca precisou e até o que nem vai precisar. Foi então que aprendi a não precisar carregar as coisas que não tenho, pois pesam mais do que as coisas que tenho.
Daí aprendi que para voar tenho que carregar só as coisas que não tenho...
Foi quando eu tomei o meu primeiro pé na bunda que aprendi este meu silêncio. O orgulho ferido,a mágoa, a vontade de gritar? Não! Silêncio. Tapa na cara, cuspida, desprezo e descaso, a imposta indiferença, o asco que os outros aprendem a ter, o sentimento de inferioridade e tudo, tudo se mata com uma boa dose de silêncio. Há que se ter vocação para o silêncio. Não é para qualquer um, nem para todos. É para bem poucos dentre tantos que imaginam viverem no silêncio e com o silêncio.
Foi depois de muito gritar que aprendi este silêncio. E que palavra e verso estão dentro do poema que nunca avisa que vem e, quando vem, vem sorrateiro, súbito, imprescindível, inadiável. Tem que ter sempre ali à disposicão bem do lado uma prancheta com papel boquiaberto e paciente para uma longa espera, quando necessário. Um papel virgem de tudo, sem mancha ou sem outra intenção de um outro uso, livre de cor, de coisa escrita, branco como convém à coisa pura. Porque senão o poema foge, carregando consigo a palavra e o verso. E a gente nunca lembra...
Pois é. Mais difícil do que fazer silêncio é quebrar, quando for preciso, o silêncio.
Creio que só poeta bom não precisa disso de papel e prancheta e dessa prontidão para escrever, porque vive amasiado com as ideias, assim amancebado com a inspiração. O poeta bom vai se deitar toda a noite com a poesia e com ela se levanta toda manhã. Toma banho, café, troca de roupa e saem para passear. A poesia é essa mulher zelosa que tudo vê e tudo sabe, que cuida de tudo.
Foi depois do meu primeiro pé na bunda que aprendi essa coisa de leveza. Daí que quero estar sempre leve, quanto mais leve melhor.
Aqui em casa, eu que não sou desses poetas dos bons, não sei escrever de sapato, porque os pés, quando presos, cobertos, atrapalham o diálogo com o chão e dessa forma atrapalham o voo. Sim, porque quem quer voar tem que conhecer o chão. É para onde vai voltar.
Então eu tiro os sapatos e tiro também as roupas pesadas e troco por umas assim bem largas, feito o hábito de um monge, justo eu que não tenho mais o hábito dessas coisas de reza e meditação, de pensar no além que fica além do que o meu olhar já chegou, quando pousou no bem distante para descansar de tanto ver e ver sempre mais do que se pode ver, quer ver dói e fere, coisa assim de por dentro da gente, onde a gente não vê e não sabe, não percebe.
Gosto de vela acesa pela casa, por causa do fogo, que sei que é mágico e encantador. Gosto também de animal que cospe fogo, mas acredita-se que estejam extintos e os que eu criei eram livres para ir e voltar ou não voltar.
Depois do meu primeiro pé na bunda aprendi a gostar do fogo. Porque o fogo destrói, transforma, prepara, purifica...
Depois do meu primeiro pé na bunda não fiz mais silêncio. Mas foi só depois do terceiro ou quarto que aprendi a gritar. E quando gritei era música, poesia. Então quer dizer que aprendi a escrever, sentir antes disso e vivenciar antes de sentir, não sei, tudo isto junto assim misturado na bagunça da caixa do que não sei que derrubei junto com a caixa do que sei. Agora não sei mais o que sei e o que não sei.
Depois daquele pé na bunda aprendi que as coisas pesam. E pesam porque a gente tem que carregar e vive carregando o que não precisa mais, o que nunca precisou e até o que nem vai precisar. Foi então que aprendi a não precisar carregar as coisas que não tenho, pois pesam mais do que as coisas que tenho.
Daí aprendi que para voar tenho que carregar só as coisas que não tenho...