Terceira Pessoa do Singular
E de repente ouço-a gritar: _ Nãaaaaooo!!! Ao que parece, o pingente, em formato de coração, escorreu pelo ralo da pia. Mas... Espera! Ela parece ouvir o tilintar do objeto no encanamento. Cessa-se o som. O objeto possivelmente ficou preso nos canos. Vejo certa esperança em seus olhos. Em desespero, desmonta-o, sacode-o e, com aquele impacto sob o chão áspero e gélido, vejo-a resgatar aquele pequeno coração de pedras brilhantes. Noto uma lágrima escorrer sob seu delicado rosto e um pequeno sorriso é esboçado. Observo-a lavá-lo cuidadosamente. Provável que esteja limpando-o de todas as impurezas. A sorte, penso, foi que não houve ninguém para abrir a torneira e deixar que as águas levassem, para sempre, seu coraçãozinho que, a este momento, poderia estar perdido em qualquer esgoto espalhado pela cidade. Desvio-me do basculante, dou-lhe às costas e volto a fazer qualquer outra coisa tão menos importante.
14 de fevereiro de 2013