FABRICAÇÃO DO REAL

É assim – na singeleza dos gestos – que me apercebo da sagração do humano. A constatação ingênua mais do que perceptível, aquilo que simplesmente se sente, tal é o fetiche da eventual observação. Como num jogo de "cinco marias". Tanto voam as peças lúdicas nas mãos ágeis, que uma delas acaba no chão, e por certo voltará ao ar pelas mãos do parceiro. Todos ganham por jogar o tempo para o vácuo, como a bolha de sabão alumia – translúcida – o território da infância. Da mesma maneira que as luzinhas sobre o berço instigam a pupila do bebê, que se adapta ao novo, e tenta descobrir o mundo fora do ventre da mãe. E rebrilham – mágicas e indutoras – nos espelhos na maturidade. Essas candeias dançantes no vazio podem tornar a vida mais fácil de ser vivida. Até para os incrédulos. Enquanto há vida, sempre é possível o passo diferenciado, mesmo que com predisposição constante para a dúvida...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2012/15.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4152629