Uma Prosa à Felipa
Felipa era quem costumava me chamar de poeta menino, somente por me ouvir declamar os tristes poemas de Florbela, nas manhãs de domingo ao jardim florido de tia Úrsula. Chamava-a de tola, mas ficava envaidecido e orgulhoso. Tão menina ainda, Felipa, andava falando de coisas... tão cheia de sentido. Ela era tão sensível...Por vezes lhe flagrara rezando e chorando. Felipa sofria por tudo e por tudo, não entendia eu a alma de Felipa que entendia de tudo!
Numa manhã de Páscoa, quando voltávamos da missa, me explicou que a alma provinha de Deus. Maria gerou Nosso Senhor, mas a alma dulcíssima do Redentor foi Deus quem doou. Ainda lembro disso!
Ainda era menina quando sua voz doce e meiga, calou-se para sempre. E o poeta que dizia haver em mim, murchou como um botão de rosa sem ver o sol da primavera. Desde então, vivi como enxurrada que não inunda...E a saudade que ficou, virou praga, maldição que ainda permanece à alma feito “sarna”.
Felipa partiu sem conhecer o amor e seus encantos.
restou-me apenas este imenso vazio povoado pela loucura, lamúrias... As vezes choro com as lembranças e desafio Deus com ira e saudade. "_Por que pra "ela" toda sorte e pra mim esta desigualdade? Oh, Deus, quanta maldade!
Desprendeu de mim a vida e desencantei.
Hoje, sou como canção inacabada que mal consegue embalar o próprio sono. E nesta demência me alucino e as meus pensamentos em ladainha constante de indignação.
Somente a desilusão floresceu feito erva daninha, domando alma desfalecida em nostalgia, onde toda dor se deleita!
Mas ainda frequento os jardins onde os tristes versos de Florbela adornam a ausência de minha doce poesia: Felipa.
Marisa Rosa Cabral.