O Medo, O amor e a Velhice...
Hoje despertei mais cedo. Um estranho medo me assombrou a alma que por instantes, até pensei estar amando.
Lembro que o amor me causava pânico e tremores noturnos, assim como a velhice. Mas esse medo era estranho e muito distante de minha consciência.
Lígia chegou trazendo meu chá de camomila. Pressentindo algo, não ousou abrir as cortinas do quarto nesta manhã. Somente ela sabia o quanto bem me fazia a penumbra que ali jazia friamente!
Recolheu a bandeja e voltou em seguida aconchegando-se ao meu peito sugerindo carência. Encolhida por sobre as cobertas, mas parecia filhote de cadela recém parida. Seus cabelos cheiravam a mato.
_Andaste pelos matos? Indaguei e lhe sorri.
Com a voz abafada me respondeu que esteve a colher flores e em seguida me criticou dizendo que a tal prazer não me permitia apenas, pra manter a farsa da doença inventada.
_Por isso o medo surpreende, zomba e ainda ri de ti, meu poeta.
_Então,já que és tão sábia, responda-me bem depressa, antes que o medo volte levando esse prazer que agora sinto..._O amor ainda é o mesmo? Seus mágicos sintomas, ainda surpreendem?
Lígia deixou o rosto emergir das cobertas, sorriu como vento que espalha as nuvens de terra sedenta por enxurradas, e respondeu
_Oh, poeta de meus dias. O amor é eterno como as saudades tatuadas em nossa mente. É segredo desvendado na alma de toda gente.É prazer e desgosto inevitável!... Mas tem sabor de queijo e melado! (sorriu)
_E o medo?! tornei a perguntar.
_O medo é como o frio que surpreende, visita inesperada em dias de escassez mas passa rápido! Como um beijo sonhado por alguém que nunca ousou... Mas, tudo passa, tudo finda e tudo fica esquecido meu poeta!
_Com a morte, suponho?
Lígia exibiu-se num olhar encantador, e me beijando os lábios mansamente sussurrou...
_Com a vida, meu poeta!
Marisa Rosa Cabral