UM RENASCIMENTO
O tempo que corre desata os nós antigos de nós. O quimérico, o impossível agora é palpável, comestível. Se era muito escuro, aclarou, reacendeu. O que a nós nunca prestou, só ao solo do passado brota. Fica encorpando por lá, flor, arbusto, tronco. Lembro-me como fora agora aqueles abatidos passos portão afora crestando em brasa um fim de história de uma parábola teimosa, sem fim. Pois ainda quero mais, muita coisa mais, sendo assim... Levanta-se o sol trazendo a fresca aurora. Café, leite e pão quente, melão, amora. Minha recordação renitente põe-te ao meio por teu rosto aromoso, suave em recheio, limoeiro aveludado nascendo de teus braços. Teu meninil meneio ácido, impávido, tudo isso ainda mexe e me cabe. Nosso prescrito e embolado enredo me penetra. O calor poderoso da areia da praia afogueando teus pés, flama em festa, fazendo-te risonha a pular-te, fina arte... E vem-me tua imagem corada ao convés no singrar das ilhas à tarde. Desperta tudo o mais que fora atestado morto. Logo agora, de um casulo renasce, qual lua nova, trem que chega, pássaro que parte. Ao pleno luzir da aurora, aflora a nostalgia e o triste aquiescer da noite, açoita a saudade.