QUANDO MEU PÉS NÃO QUISEREM MAIS AS RUAS
Quando a apatia usurpar minhas mãos tornando-as icebergs congelados; quando o semblante não mostrar alguma emoção, tal um mar sem marés em sal desertificado; quando meus pés não quiserem mais as ruas, nem mais ansiarem roçar o chão, mas apenas em avançar, por nada, suas unhas, talvez, neste instante, neste transcendente instante, eu tenha enfim defrontado, em meio a este temerário não-desejo, aquela minha doce alma nua que, aqui, anacrônica, sempre coexistiu pareada à esta alma outra, tão ansiosa por todas as coisas, mas que estava, por décadas, velada pelas irretocáveis e matemáticas fases da lua e pelas brutas e inconstantes fases minhas...