OS RUÍDOS DO SILÊNCIO
Noite insone como tantas outras.
Um rolar infindável na cama.
Olhos presos no teto. Cérebro a mil.
Parece que o tempo não passa.
E tem aquele problema a me tirar o sono
no qual não quero pensar.
Viro prá lá, viro prá cá, nada. O sono não vem.
Não quero continuar pensando,
aperto o travesseiro na nuca,
fecho os olhos... continuo desperta.
Levanto-me, vou para a varanda dos fundos
deito-me na rede e fico quieta,
à espera do sono.
Começo então observar o silêncio.
Todos dormem. Uma calma profunda
invade a noite.
No quintal, as árvores. Plá! Manga caindo.
O vento açoitando as folhas.
De repente o barulho de uma moto. Passou.
Agora, já presto atenção aos ruídos.
Um folha caindo, um grilo, um cão ao longe.
De novo o silêncio.
Plá! Outra manga se espatifa no chão.
Uma cigarra àquela hora tardia
anuncia o começo do verão.
Outros notívagos a seguem:
um pássaro, outro grilo, uma coruja.
As horas passam e o sono não vem.
Um caminhão sobe a rua devagar,
carregado nem sei de quê.
Carga pesada, pelo barulho
e dificuldade em subir.
Pensei no caminhoneiro,
que também estava acordado como eu.
O cheiro de pneu queimado impregnou o ar.
Pobre motorista anônimo!
Era uma subida triste aquela do caminhão...
Uma pomba rola arrulha na árvore.
Deve estar sonhando.
Um morcego tira uma rasante sobre mim
atrás das frutas do quintal.
Entro. Olho o relógio: 3 horas da manhã.
Um sabiá começa entoar um canto. Magnífico!
Perco-me no seu canto... inebriada,
adormecendo enfim!