O SERTÃO DENTRO DE MIM.

Bate um chocalho cavo no meu coração

Bate, bate.............

Como um olho que tá se fachando

Se fechando enquanto bate.

Na areia dos meus sentimentos estão os rastos da dor,

que dói de saudades.

Saudades do boi,da água da sombra.

Bate um chocalho cavo no meu coração

Bate, bate...........tine!

O olho está quente mais não brilha,

mais ver histórias que contam os donos da esperança

Histórias de alivio............suspiro.

Dentro de mim ainda resta um veio de água lodosa lenta,

e preguiçosa passando entre os lagedos de minha inspiração.

Bate um chocalho cavo dentro do meu coração

Bate bate........ soa.

A aridez do meu penar machuca a minha carne,

afina os meus dedos que coçam a pele amarela do meu corpo,

e apontam as gerações que hão de vir com medo das histórias do passado, dos feridos e esfolados que acendiam o fogo para assar

a alma.

Almas de pau e pedra que construiram tantas poesias e recitaram

poemas aos sedentos.

Os urubus são vagarosos não se apressam, com a morte dos animais

(eu, você nós) eles vagueiam na minha sina algorando o meu repente.

Bate um chocalho cavo dentro do meu coração

Bate, bate.................queima.

O sol fulmina os campos alvos de algodão, com o fogo da madrugada

escutei a voz da terra lavrada de poesia lambendo os seus filhos, filhos

de barro já quase mortos na vastidão.

Dentro de mim o sertão fala, anda com migo no mesmo chão regado

de suor e pranto.

Dentro de mim tem um sertão de amor e morte e de muitas canções

cantadas nos cascos das boiadas tangidas pelos aboios da vida.

A minha lingua não sente a chuva,

Mais a raiz da poesia não morre, ela é a mulher que traz no ventre

o amor.

È a mãe dos cantadores,

repentistas,

aboiadores

emboladores trovadores e poetas.

Todos paridos pelo sertão.

Bate um chocalho cavo no meu coração

Bate, bate.............. sonha.

Um suco de lágrima irriga as rugas da terra,

e eu não me envergonho de chorar por dentro, eu não me culpo

não carrego o fardo da mágoa, antes sonho..........

Sonho com um céu, o céu dos nordestinos,

cheio de espigas douradas, macias no mastigar

um céu de chuva perene, um céu com carne salgada.

Um céu com cuias cheias de água boa de beber.

Onde se corre nos arredores do paraiso no lombo de um cavalo gordo.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 17/02/2013
Reeditado em 18/02/2013
Código do texto: T4144473
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