Meu canto chorou
Meu canto aquietou-se,
moribundo como a tarde que se despede,
como a noite que, por vezes,
oculta sua negra decepção
ao constatar que nela
fazem beleza apenas a lua e as estrelas,
como a manhã que se deixa nublar
para esconder as lágrimas do sol.
Meu canto calou-se,
hibernado na caverna da desilusão
onde, abatido e solitário,
aguarda a brisa para refazer suas forças,
desatar o nó que tolhe a sua liberdade,
afastar as revoltas
com as quais não compartilha.
Meu canto enfermo
não aceita o desamor
que testemunha vinganças mesquinhas
sob o manto de justiça,
não compactua com a covardia da fuga,
com a ironia dos desacatos,
com a vileza dos apelativos,
com o egoísmo que transforma o homem
num manipulador circunstancial
da vida dos que dele dependem.
Meu canto calou-se e chorou...
SP, 15/07/2005
13:51 horas