Tudo que sou agora

Sou a rosa sem fragrância.

Embebedei-me nos beijos teus,

Perdi-me no labirinto que sou.

Sou a tristeza incomensurável e desprotegida.

Alegrei-me por instantes nos braços teus,

Perdi-me em tua pele.

Sou a lagrima que almeja não ser eterna.

Chorei no teu dengo,

Perdi-me nos meus princípios.

Sou a febre que logo passa.

Volto um dia a ser teu abrigo,

Encontrada em teus cantos.

Sou a estranha das almas estranhas.

Vago silenciosamente por caminhos sem fim,

Inacabados perante o continuar.

Sou o medo de não ser lembrança.

Um vazio rebuscado em solidão enfune,

Sem ecos de coisas aparecidas.

Sou o pequeno frasco de essência pura.

O reflexo de íntimos retratos,

Onde a imagem nem se faz capturada.

Sou a ânsia da fuga.

Tropeço a passos cansados,

Sem quê de destino certo.

Sou a criança em sua existencial idade.

O choro de infância que embala em pesadelos,

O amor e a força reprimida.

Sou o astro ofuscado num céu luminoso.

As sapatilhas de ballet abandonados no armário,

Sem estrelas para calçar.

Sou o caminho impossível e contagiante

A cicatriz que não me permite partir,

Toda a esperança de uma outra vez.

Sou a presença passageira dentro do pouco que restou.

Perdeu-me, na firmeza do que poderia,

A sombra das possibilidades do provável.

Sou todas as armadilhas dentro de tudo que sou.

-- Ao anjo que tomou em mãos todo meu juízo.

NeeleeK - CS