Culpa
Existem três tipos de solidão. Aquela que te submetem, a por merecimento e por opção. Mas, na verdade, existe uma quarta. Raríssima, quase ninguém a tem. É a solidão por culpa dos três tipos simultaneamente.
Teve uma garota que dizem que sofreu disto. Tudo começou quando fez uma escolha que acarretou em caminhos errados e resultando na solidão submetida. Desolada, construiu uma parede de concreto chamada culpa. Apesar de ser meramente imaginária, a culpa pesava, afinal, a menina precisava levá-la de um lado para o outro. Assim, quando começou a senti-la, se iludiu que podia vê-la, e assim se culpou pela culpa. Se ela existe? Não se sabe. Mas ela pode garantir que a viu. E assim sempre se encontrava com esse sujeito culpado inexistente, e assim acreditou que merecia e deveria levar em suas costas esta parede fictícia.
A culpa andava com ela. Mesmo após ter acabado com tudo o que fez de errado no passado, a parede parecia forçar suas costas, fazendo-a lembrar do tempo que já havia passado. E então via que quanto mais tentasse se livrar da solidão, mais ela viria ao seu encontro.
Como uma sala vazia. Nenhum móvel, nada. Aprendeu a dormir com a parede construída em cima. Aprendeu a sentir o conforto no sufocamento. E assim a culpa pareceu uma opção. Ela tinha como dizer não para ela. Não bastava muito tempo para se livrar de tudo. E ainda assim ela preferiu caminhar com sua nova amizade.
A menina diria que a vida ainda tinha muito que lhe mostrar, mas no fundo sabia que nada iria realmente importar. Em bilhões de anos ninguém se lembraria de coisa alguma. Memórias são como a vida. Elas também têm seu ciclo. Também têm seu fim.
Mas a menina continuava caminhando em busca do infinito. Alguns diriam que ela era corajosa. Eu diria é que tinha medo. Do fim. Mas o que tem de tão ruim no fim? Não sei, e por isso mesmo acredito que quem se arrisca a descobri-lo é o corajoso.
Eu, depois de ouvir essa história, passei a pensar em como seria o mundo se existisse o infinito. Se as pessoas fossem infinitas. Superlotação. Vilania compulsiva, infinita. E quem quisesse se matar? “Azar, quem mandou nascer?”. E assim seria o mundo. Sem vontades, medos, desejos. Sem sentimentos.
Como anda a menina? Por aí, buscando o infinito. Quem a vê só a vê por fora. Porque por dentro, é só uma dura e fria camada de concreto. A menina que se chama culpa.