Um veneno indomado
Pediram-me um veneno diferente de qualquer um. Deveria ser poético, como cianeto, letal, como mamona e ardente, como beladona. Acima de tudo, tinha que ser fatal, entretanto, havia características mais específicas. Tinha que matar aos poucos, levar realmente muito tempo, de modo que você devesse tomar várias doses até morrer plenamente, sendo que já era como se morresse várias vezes, pois seu efeito era tóxico, mas também era imortal. Na primeira dose, precisava ser entorpecedora e sedutora, ao ponto de uma dependência descontrolável. E, muito breve, aos poucos, viria a proporcionar dor e, de tanto prazer, conceder ainda mais dor. Deveria ser um vício tamanho que te acorrentasse a prová-lo por toda a vida - caso fosse impedido, iria fantasiar coisas sem sentido, sentiria sua falta pela eternidade, na verdade, iria imaginar ele em todos os momentos que lá não estivesse ao seu alcance -. Então, quando ele terminasse, dependeria da reação química ao usuário (de qualquer forma, proporcionaria uma impetuosa dor); a maioria, simplesmente morreria ao seu clamor; e alguns poucos, seriam poetas, como eu sou. Já que esse veneno, que aqui falo, se chama amor.