Bilhetinho do fim do mundo
Antes de mais nada, quero que saiba que não pretendo lhe guardar rancor; não prometo, pois ainda não sei como vou cicatrizar. Se vou cicatrizar.
De você eu esperava exatamente tudo, menos isso.
Não ei de mentir, ainda te quero. Tanto quanto sou capaz. O que temo é que se acostume à essa postura, e isso não posso tolerar. Já suportei todos os tipos de merda que possa pensar, mas isso não posso permitir; já tenho que engolir a dor que eu mesma me inflijo, não preciso das cicatrizes impostas pelos outros.
Também gostaria que estivesser ciente de quanto te quis: nada desejei mais forte no mundo que estar em sua companhia; não precisava nem que gostasse de mim pelo que sou. O físico me bastava. Às vezes acho que te amei, no que me parece agora apenas alguns segundos. O certo é que te adorei. Te adorei como um deus. Meu deus da guitarra, com as caras de bocas, e os dedos nas cordas, fazendo-as chorar.
Agora quem chora sou eu, pois não serei mais capaz de sentir o teu cheiro sem, ao mesmo tempo, sentir o gosto de sangue.
Espero ter, finalmente, pelo menos uma vez na vida, tomado a atitude certa; só sei que dor é algo que não desejo acumular. Já a tenho o bastante.
Pretendo, ainda, guardar de você só as lembranças boas, e espero que seja uma tarefa bem sucedida, apesar do fato de que a sensação do choque, será algo que jamais poderia me esquecer.
Tomara que você consiga fazer, na vida, escolhas mais felizes que aquela.
Te desejo o que há de bom, mesmo sabendo que é algo que eu mesma jamais conseguirei alcansar.