A PEDRA E EU...
Esta pedra que me dá assento, se pudesse falar o que diria do rio passando?
E de mim, o que iria falar? Que sou ingrata e egoísta por tantas vezes a haver
requerido para meu anteparo, submetendo-a aos meus devaneios e lamurias,
sem nunca a ter percebido, a cada dia, mais polida, servindo de encosto a tantos solitários?
Mas, o que há de se falar da pedra?
Nada tenho a dizer...
Sinto-a fria e um tanto escorregadia... Apenas.
Do resto, pergunte ao vento que, a lapidando,
acariciou todas as faces e é dele a arte.
Esta pedra nunca foi meu substrato e não
dediquei-lhe um único verso...
E agora, analisando-a, foge-me as palavras.
Neste aspecto temos algo em comum;
quando é de mim (a falar), também não encontro
o fio para puxar o discernimento.
Da lua e mar,
do céu e nuvens,
já relatei absurdos.
Da noite e seu sereno
orvalhando a flor...
Já fiz versos de amor.
E do amor, se extraí (algum dia) emoção,
já estava obsoleta.
Mas dele também pouco tenho a dizer...
E de mim... menos ainda.
Não sou verso e prosa
e tampouco palavra.
Sou rascunho levemente
rabiscado num rasgo de papel...