Fruto do Meu Silêncio

O silêncio que enche me a boca

É amargo ao teu paladar

Meu tempero não é do teu gosto

e, assim, você não me engole

Alimentas a tua angustia

Tendo fome das minhas palavras

Que não brotarão nesta estação

pois as sementes estavam podres

por isso o silêncio me enche a boca

Mas em meus olhos ainda brilha

a vida que quase morreu em mim

A vida que eu quase matei em mim

Ela sente minha falta

sem nunca me ter vivido

E eu sinto saudades dela

sem nunca tê-la plantado

O que até aqui colhi

Não provém da minha horta

morta, ao lado da aorta

por isso abri a porta

e por ela passei, como um ingrato

pra revolver a terra com meus passos

ensopá-la com meu suor

e assim calar o meu silêncio

Enquanto o sonho não me sustenta

vou sustentar meu sonho

e dormir mais tranquilo

pois vou seguir o meu caminho

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À M.M