Fique
O som do piano suaviza e acaricia a mente, os ouvidos, o pescoço, rosto
...e as lembranças dela.
O solo que ecoa da guitarra
faz cócegas no coração dolorido, nos olhos que poderiam voltar a marejar.
O início da letra diz: "fique",
e termina com toda a força, com a falsa indiferença, com o momentâneo esquecimento... e ela já canta a letra:
O refrão traz o entorpecer do fim do dia
enquanto, de volta para casa, ela caminha, surpreendida.
E, por causa dos efeitos dessa música,
desacelera, olhando para o céu:
Não há nada lá - não é para este céu que ela olha, nem para estas árvores verdes como a cor do seu vestido.
É para o céu e o verde de uma outra terra;
é para um momento no passado. E, por isso, desacelera o passo.
Pois a lembrança é quase tão viva...
que ela poderia andar até lá.
Mas acaba esgotando tudo,
todo o sentimento:
Livre, através das palavras
e da repetição - Ouviu a música até ela não trazer mais nada.
Então amassa
amassa, rasga
e d i s s o l v e
essas notas,
des(cons)truindo as frases e o resto....
resto
de
carinho
que
ainda
permanecia...
mesmo após (a despedida).
No fim, pensa consigo mesma (reconstruindo):
é esse acariciar de lembranças,
só de lembranças...
que ela não quer mais para si.
E, finalmente, finaliza.