[Perdido poema]
Não é no cemitério que eu sepulto os meus mortos — seria trivialíssimo! Eu os sepulto em escuras cavernas dentro de mim.
Não duvido de minha ek-sistência, eu ando, eu falo, eu penso, eu escrevo até — sei-me vivo, embora tenha o costume de falar que já estou morto — isso é só figuração, pois afinal, para todas as coisas que eu morri, então, morri. Pronto.
Quando eu quero [querer não é fácil, não é obvio], viajo-me, vou àquelas escuras cavernas — falo com os meus mortos, confirmo claramente que Deus não é, nunca foi, e que a alma também não é, não ek-siste senão, talvez, nessa absurda transcendência sublime!
Antes de mim, nada, durante, só incerteza, depois de mim, nada. Gosto de pensar no contraponto entre finitude e infinitude. Sou um perdido poema escrito num acesso de loucura...
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[Desterro, 31 de janeiro de 2013]