AS PAIXÕES

Paixões são todas aladas. Desprendem-se do solo tal fumaça de lenha. Efeitos ígneos que deixam ao chão rastros atrás de si. Sem olhar às costas, levitam orgulhosas de seus prodígios em espevitadas e sinuosas curvas. Marcam imagens ao ar, indicam, resolutas, seu leve rumo, imaginando-se incessantes. Pudessem queimariam ao último pau toda madeira do mundo apenas para manterem a qualquer custo o descontrole que levam nesse vapor constante, embaçado, insensato... Às paixões de nada importa o tempo. Ao contrário. Melhor que sejam rápidas. Preferem que forte seja o vento, que ao máximo este as espalhem para que sintamos todos seus intoxicantes gases e cheiros. Enuviam, entontecem, dilatam; por termo, de tão imensas, cheias de si, asfixiam e matam os mais próximos e também a elas próprias...

(Gê Muniz)