Retrospectiva

Sobrevivi a amores perdidos, esqueci amores vazios, vadios, de pura ilusão. Aprendi a desgustar o mel, lembrando o amargo do fel. Vi amores de laboratório esfarcelar-se, dissolver-se, acabasse, contrariando a “vontade” de Deus, imaginem... Vi doutores emburrecendo-se na vaidade, como quem nega a efemeridade da vida. A vida é efêmera! Vi lideranças eclesiásticas aprisionando pessoas com sofismáveis doutrinas. Vi o dinheiro, regendo o mundo criando e destruindo vidas, unindo e afastando pessoas.

Vi mulheres chorando seus amores passados, perdidos, traídos, malogrados. Vi fariseus travestidos de servo, vi Deus ser vendido, comprado, negociado, mercantilizado. Vi a vida do trabalhador ser comprada, escravizada, explorada, suada, calejada, aumentando a riqueza do seu patrão, do seu senhor.

Vi a mentira da aparência daquilo que somos, quando fingimos ser o que nunca fomos. Vi o tempo passar, a lembrança ficar nalgum lugar, lá longe, cristalizada. Vi poeta descontente, feito passarinho, do edifício saltar, e morrer no meio da gente. Vi tragédias, vi incêndios, enchentes e secas, mas os digníssimos politiqueiros estavam deitados em berços esplendidos da nossa pátria amada e mãe tão gentil...e nada puderam fazer.

Vi as segundas intenções, as conveniências, mentiras e enganos empanados por um falso romantismo, nas palavras e versos de mulheres aventureiras, vadias, vazias, sem coração. Vi a sociedade conservadora das boas maneiras, da moral e dos bons costumes, degenerasse, vender-se, prostituir-se , corromper-se. Vi um bando de loucos dizendo que a voz do povo é a voz de Deus. Vi o futebol fanatizando, o big brother imbecilizando, a religião alienando, políticos enriquecendo.

Vi idiotas em avenidas e praças, desopilando com pão e circo dados pelo Rei. Vi Marias Madalenas, em conflitos , escondendo-se à sombra da cruz, aos prantos, na vã tentativa de aplacar sentimentos de culpa de delitos tantos. Vi negros espancados e mortos, confundidos com ladrão. Vi crianças sacrificadas nas ciências ocultas e adolescentes de programas descendo os morros nas favelas. Vi as velas acenderem-se para o papa, revelando o seu tesouro maior, o Vaticano. Cristo? Isso é coisa secundária!

Vi amores ditos pra sempre, acabar , sucumbir, mediante oferta maior, como na prostituição de luxo. Vi prostitutas de luxo perderem o luxo e voltarem para as suas casas, para as suas terras, desiludidas, traídas, decepcionadas. Vi a vida seguir, o poeta escrever, a criança sorrir, a flor brotar.

Vi o tempo passar, uns nascendo, outros morrendo, uns ganhando, outros perdendo. Eu vi, eu vi tudo e não esqueci, por isso escrevi, eu vi...

http://www.youtube.com/watch?v=k6U2lf_Jiig

Percílio de Aquino
Enviado por Percílio de Aquino em 30/01/2013
Reeditado em 10/02/2013
Código do texto: T4114107
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