Desocupação pós-moderna

Hoje, um outro dia

de possibilidades.

Felicidades novas

protestam diante

da janela.

A cor bela de um azul

do céu não veio.

Peço então tradução

e esteio ao cinza

das nuvens.

Vamos em frente,

com o brilho no olhar

e o branco nos dentes.

Sou grato ao carinho.

Sozinho,

o difícil vira o dobro.

Dobro os papéis

e limpo gavetas,

giro as maçanetas

para despedir-me.

Sinto mãos e braços,

beijo sabor saudade,

idade e memória

na inglória impermanência.

A partida,

em contrapartida,

é para repartir

minhas sobras,

pendurar uma placa

de aviso e aviso:

- Estou em obras!

Então, respeite a minha poeira

e as inconveniências

de uma reforma.

Entro em forma

tão logo possa.

Tiro o pé da poça,

lavo uma pia de louça

em terapia ocupacional.

Um jornal? Não vou abrir!

Prefiro notícias frescas

com purê e vinagrete.

Sim,

aquelas lidas

na tela do monitor,

na internet!

Aos vagarosos, a lentidão!

Que tal a palavra tradição

para rimar em tão perfeita

consonância?

Uso sim o aumentativo

de chave, vulgo CHAVÃO,

para ilustrar provérbio anônimo:

- O pior vazio é o da carteira!

Materialismo? Besteira?

Mas também de asneira se vive.

Não vivo só de luz,

nem carrego a cruz da fotossíntese,

preciso é germinar em solo

que me queira. E só.

Sonhos? Rá!

Esses pegaram senha e agora

estão numa fila de espera.

Claro.

Atualizando o status do facebook

pelo smartphone para:

- Em relacionamento sério com a desocupação!

Oremos então,

de hora em hora,

nos dias pares,

nos ímpares, não.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 30/01/2013
Código do texto: T4114102
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