Desocupação pós-moderna
Hoje, um outro dia
de possibilidades.
Felicidades novas
protestam diante
da janela.
A cor bela de um azul
do céu não veio.
Peço então tradução
e esteio ao cinza
das nuvens.
Vamos em frente,
com o brilho no olhar
e o branco nos dentes.
Sou grato ao carinho.
Sozinho,
o difícil vira o dobro.
Dobro os papéis
e limpo gavetas,
giro as maçanetas
para despedir-me.
Sinto mãos e braços,
beijo sabor saudade,
idade e memória
na inglória impermanência.
A partida,
em contrapartida,
é para repartir
minhas sobras,
pendurar uma placa
de aviso e aviso:
- Estou em obras!
Então, respeite a minha poeira
e as inconveniências
de uma reforma.
Entro em forma
tão logo possa.
Tiro o pé da poça,
lavo uma pia de louça
em terapia ocupacional.
Um jornal? Não vou abrir!
Prefiro notícias frescas
com purê e vinagrete.
Sim,
aquelas lidas
na tela do monitor,
na internet!
Aos vagarosos, a lentidão!
Que tal a palavra tradição
para rimar em tão perfeita
consonância?
Uso sim o aumentativo
de chave, vulgo CHAVÃO,
para ilustrar provérbio anônimo:
- O pior vazio é o da carteira!
Materialismo? Besteira?
Mas também de asneira se vive.
Não vivo só de luz,
nem carrego a cruz da fotossíntese,
preciso é germinar em solo
que me queira. E só.
Sonhos? Rá!
Esses pegaram senha e agora
estão numa fila de espera.
Claro.
Atualizando o status do facebook
pelo smartphone para:
- Em relacionamento sério com a desocupação!
Oremos então,
de hora em hora,
nos dias pares,
nos ímpares, não.