Happy - City [Feli(z) Cidade]
É madrugada, vejo uma estrela brilhando...
O sono se foi há horas... Ainda é madrugada!
Os pensamentos em embolia se movimentando,
A alma, desnutrida de esperança e já fatigada,
Segue sem rumo em estrada desconhecida...
Parando aqui e ali, mesmo assim, desvanecida.
Não sei se sonho, visão ou mesmo alucinação,
Surge em minha frente um ser nunca visto!
Cabisbaixo, rosto coberto, sem nenhuma ação,
Apenas me olha e diz: Felicidade, crês nisto?...
E se vai ao meu lado, montado em cavalo baio!
Espantei-me com aquela cena e quase que caio.
Um silencio, o vento, frio... E um calor de repente!
Não lembro se respondi à pergunta, caminhando,
Ele me disse: - Vem comigo, te mostrarei, crente,
Onde está a tal felicidade... E continuou chamando!
Enfim, percebi, pela foice, afiada e boa de corte...
Que se tratava mesmo, por triste sorte, da morte!
Estrada esburacada, pedras pontiagudas, horrível!
Até que chegamos à frente de um grande cemitério,
Desceu do seu cavalo baio e pediu, muito sério...
Que eu o seguisse... Estranho, arrepio... Incrível!
Uma linda sepultura aberta em um jardim florido,
Olhei, estava vazia, refleti, ninguém havia morrido.
Olhou-me profundo, parecia ter enorme compaixão,
Ou estava apenas pensando no mistério da criação
De Deus, que um dia, num jardim, ele presenciou...
Atrevi-me e perguntei – Então, onde está a felicidade?
Os humanos nunca vão entender... – Sorrindo, falou!
- Todo este campo que tu vês é a real Feliz-Cidade...
Não, não pode ser! Quer dizer... Felicidade, em vida...
- Isso mesmo! Parece que tu entendeste... São sete
Palmos, aqui, mas pode ser de qualquer jeito a ida...
Queira ou não... Comigo, hahaha, ninguém se mete!
Muito sombrio tudo aquilo, pedi logo uma explicação,
Pois já estava saindo pela boca, meu pobre coração!
- É simples, ele disse, quando tu morres, tudo cessou,
Não mais dor, tristeza, rancor, ódio, toda dívida acabou,
Mesmo um prazer, que seja o sexual, depois te traz
Consequências horríveis, meu nobre e doce rapaz...
A traição que destrói, a saudade que corrói, a maldade...
Ah! Aqui sim é que é o lugar! Paz, segurança, igualdade!
Veja: Esta sepultura é do José, preto, boa memória,
Morador de rua... Esta aqui é a de Virgínia, nobre,
Mulher de fino trato, foi miss, rica, mas odiava pobre...
Olha aqui a do coronel Fritz Grembyr, assassino,
Era mau, violento e truculento, mesmo, de menino!
Todos aqui, lado a lado... Posso contar a história.
Despertei completamente, mas ainda era madrugada!
Era um pesadelo, tinha certeza, mas, e se aquele ser
Tivesse razão... Mas a felicidade é depois que morre?
Aquela cena e as palavras faziam sentido... Mas morrer,
Para alcançar a felicidade?! Ah! Minha alma desmaiada!
Vem aqui, agora, e vê se bem depressa, ai, me socorre!