JANELAS NUAS

Desde menina sempre gostei de janelas sem cortinas. Gostava quando minha vó as tirava das janelas para serem lavadas. Por alguns dias as vidraças mostravam a floresta maravilhosa que cercava toda nossa casa.
Até hoje trago esse gosto, e reluto em vestir as janelas. Aqui desperto com o azul do céu me espiando, as gaivotas e patos selvagens voando leve, como a me convidar para vir olhar o dia que se faz lindo. As águas do imenso rio, tem estado parecidas com um mar de ondas pequeninas, feitas pela força dos ventos invernais que não param de soprar. Fico imaginando se as aguas não estão com frio, já que lá fora faz -10 graus, com sensação de -17 graus.
Tem feito dias de frio intenso, e de uma beleza ímpar, pois o sol esparrama seus raios por sobre toda a natureza gelada. Fui buscar lá no fundo d'alma,  porque gosto tanto de dias de inverno. E a lembrança desse gosto de minha mãe, me acariciou o coração, e me fez entender.
Paro de escrever e volto meu olhar, para a janela imensa à minha frente, e a prece de gratidão sai espontânea, e molha minha face de emoção. 
Nesse exato momento um bando de patos selvagens, deixa o solo e faz um espetáculo no ar, parece que se exibem, que sabem que eu estou a admirá-los, tamanha a beleza do momento. Gaivotas brancas como a neve,  lembram mensageiras do Criador, a trazer paz e esperança a todos que nelas deitam o olhar.
No céu algumas nuvens, sobre o lençol azul, lembram que há prenúncio de neve no final da tarde.
A natureza adentra inteira pela janela, formando um quadro de rara beleza, e penso: cortina, ah, pra que deixar mesmo por alguns minutos de contemplar esse cenário criado por Deus? 
Hoje, percebo o tanto que a natureza me refaz, e credito a isso, esse gosto por janelas nuas.

(foto da autora, East River)


Lenapena
Enviado por Lenapena em 24/01/2013
Reeditado em 24/01/2013
Código do texto: T4102348
Classificação de conteúdo: seguro