Tempos
Dias e dias... dias infindáveis na memória,
Correndo no corredor do Coisa Boa,
Ás vezes na bicicleta que ganhara no
Aniversário de sete anos, ás vezes á pé mesmo.
E de novembro a fevereiro ora março as águas
Desciam rio abaixo, alagando toda baixada,
Atravessando as estradas, molhando e encharcando
Tudo por onde passava...
No fundo de sua casa o sertão virava mar,
As águas vinham a Lagoa da Rua beijar,
E neste encontro sublime outros caminhos buscar...
Os entardecer e anoitecer era a hora do coral começar,
Toda sapaiada enamorada de felicidade colocavam-se a cantar.
Nos finais de semana rumo a cachoeira de Né Gato dezenas eram
A passar, adentravam a baixada alagada para desta maravilha desfrutar...
A estrada do Coisa Boa virava rio também, com a água cristalina a correr
Atravessando ambos os lados para os lagos embeber...
E lá estava a criançada,
Amontados em suas bicicletas atravessando as águas,
caindo e se lameando, e se banhando, numa alegria só...
Hoje ela sai no fundo de casa, e o que ver?
Vê que o romance das águas de outrora há muito tempo não se ver,
Vê que o sertão não mais virou mar, que as estradas também a muito
Tempo não se ver alagar...
As crianças de agora não conheceram aquele mar...
E de novembro a fevereiro ora março ás águas só fazem cessar...
A seca se alastrou, a sede por chuva só aumentou...
Ironia do destino, castigo, descrença? O tempo mudou...
O tempo mudou? Ou o homem que mudou o tempo?
Hoje o que se ver?
Vê-se a saudade daquele bom tempo... Ótimos tempos...