Incógnita
As palavras foram pronunciadas como golpes. Cada pequena letra tinha o poder de destruir um pouco do coração já picotado e envelhecido de quem as ouviu. Fora as palavras, um silêncio medonho fazia-se presente, representando um grito de dor unaudível. Como mais uma das várias outras coisas estranhas desse mundo, ele simplesmente estava lá. Não era preciso tocá-lo para saber disso.
Silêncio e frio. Embora o clima estivesse ameno, havia um frio terrível emanando por todo o quarto: O frio da solidão iminente. De agora em diante, estaria só. Mas será que seria mesmo só a partir daquele momento? Ou será que toda a sua vida não passou de uma solidão gigantesca embebida de rostos sorridentes e falsas promessas? Não sabia dizer, embora a resposta fosse palpável.
Não queria se mexer, embora precisasse. Que a vida tinha que seguir, era mesmo um fato. Mas seguir para onde? Para quê? Dessa vez, as respostas não apareciam nem pairavam no ar. A solução seria continuar caminhando, um passo após o outro, lenta e determinadamente. Quando se está falando da vida, qualquer passo é melhor que ficar parado. Por mais assustador que isso possa parecer, essa é a verdade.
Então respirou fundo, equilibrou-se em suas melhores sustentações – seus dois pés, sua respiração e sua fé inabalável – e deu seu primeiro passo para o mundo. Sem uma mão para segurar, um exemplo a seguir ou um colo para chorar quando fosse preciso. Partiu levando consigo apenas a crença de que um dia tudo estaria bem e a imagem resplandecente de algo que, embora naquele momento lhe parecesse surreal, aquecia o seu coração: Um lugar onde finalmente encontraria a paz.