Ética, Poética e Liberdade

Ética

Pois não se pode viver em um mundo onde sonhadores criam e outros copiam. Onde insanos não têm amigos, vivem de cachê baixo, com quatro bilhões de críticos. É desprezado, no meio desse mundo torto, de uma vida presunçosa de monstros, que se acham deuses, mas deuses são os loucos. Os outros, não passam de cínicos, mortos num piscar de olhos, em um rugido de leão, no próprio medo que os envenena, escorpião, e, com isso, extingui a arte, pobre dela, que tenta restaurar tudo, a crueldade desse cínico mundo, em uma excêntrica quimera.

Poética

Sim, precisamos de liberdade inventada, porque a arte é solta e amada. Morre em cada pintar de palavra, cada nota do tinir de espada, do coração do belo feito de amar. Vive de bruços ao ar, prestando atenção no ideal, no fugidio, na beleza do bem e do mal. Apenas para encontrá-lo, Vê-lo, beijá-lo. O artista é o único que sabe amá-lo. Estou falando da verdade. Essa que alguns dizem ser imposta, ela é exposta pela arte. Arte é a realidade, é a verdade sem mágoas, faz da lava, água, transfigura o abismo em palavras, mas sem, contudo, desintegrar-se, à condição de um gracioso vale, essa tétrica aspereza do mundo.

Liberdade

Que ironia, é aquilo que resume a arte, é inimigo da sociedade e, diga-se de passagem, maior adversário do homem. Além de se fazer de aliado, é um assassino que se esconde. É sua culpa, liberdade, por meu viver de forma poética, construindo minha própria ética, pelo modo que uso o poder. Ah, cruel vontade de poder, também vem da liberdade. É nossa identidade, mas se Nietzsche errasse sobre a verdade, seria tão certo, tão fácil concretado, um mundo de versos, prosas, amor amado, ódio lapidado, alegres sorrisos, e não sorrisos mascarados. Ah, pobre pássaros, livres, como eu, às vezes morrem voando, assim, só vivendo, amando, criando, mas, ainda que chorem em prantos, transfiguram seu abismo em cantos; montanhês, fica esperando, depois do disparo, algum sonho. Três, dois, um, morto.