Todos os outros dias... 
 
Sinto-me breve quando o dia  finda. É nessa hora que a tarde encharca meus sonhos com o pôr-do-sol, abrindo largos corredores no horizonte. É a hora em que meu olhar se tinge de saudade mas não sei ao certo que saudade é essa... só sei que ela existe e insiste em se fazer forte, perturbadora e intensa.  E enquanto o sol se deita, ela tenta se esconder atrás do muro e vai fugindo pela porta, até que o sol se assente por trás da serra, apagando as luzes da tarde na vermelhidão do mundo...
 
Mas não vou negar, gosto dessa sensação de missão cumprida - mais um dia! Mesmo que muitas saudades se juntem por dentro de minhas pálpebras, vou sobrevivendo a essas emoções diárias, sempre novas ou renovadas . Horas em que volto ao casulo sentindo-me contraditoriamente livre... Hora em que me calo, querendo apenas sentir tudo à minha volta, sentir!. Sentir a vida em sua essência preenchendo minha sede e minha alma de paz.
 
Nem sei bem definir como me sinto por esse tempo.. Talvez (in)completa, sem entender minhas razões... mas nem sempre me fecho em contemplações contundentes.  A verdade é que esqueço as horas e vou deixando a noite, como água, levar toda a poeira, mas sempre alerta a essas sensações novas que vou repassando para o coração através dos meus versos.
 
E, de repente,  já é noite. De olhos acesos, me encosto no vento e sinto dormir em mim uma saudade travessa... Ela machuca, eu sei, e me faz sentir falta das palavras que não ouço, essas que se escondem nos meus acenos de hoje...  e  acabam por se perder no calendário.
 
Agora é infinita a falta da palavra que me faz sentir a presença do sol. Custa-me acreditar no silêncio, pois quero viver inteira a noite que se instala, pra que ela amanheça em flor, todos os outros dias.