Assim cantava meu avô.
Uma cama, um carinho e uma canção.
Lembrança sonora e visual, de uma infância,
tão viva e tão distante quanto um sonho.
E assim, me carrega pra outra vida dentro dessa mesma,
nesse ciclo interminável que é nossa existência.
“Marina morena Marina” cantava meu avô,
certamente lembrando-se de outros tempos.
Outrora talvez,
tal melodia tenha embalado suas paixões,
só sei que senti todo o amor despejado a cada palavra....
...e ele olhando para mim.
Sua alma cantava.
Eu não entendia direito o que tal momento me proporcionava,
mas a ligação das almas naquele instante,
doava a mim, por poucos minutos, um ar divinal.
A mágica da música atravessa eras, vidas,
carrega sequelas obtidas,
ou memórias de alegrias vívidas,
nunca esquecidas.
Assim, tenho certeza que nunca a esquecerei.
Talvez me pegue a cantá-la para um filho meu,
se meu doce avô já não existir nesse plano.
Cantarei baixinho,
lembrarei dos gestos seus ao chegar ao refrão e
num insano instante, cantaremos todos juntos.
Será amor eternizado, de geração a geração.
O que há em nós ressoa pelo mundo,
há de certo de encontrar outros corações
e refletir em passados e futuros de forma inimaginável.
Não trazemos às mãos as respostas mais profundas,
aonde quer que procuremos,
em vão será.
A procura está por dentro
e renovará.
O que liga minha alma à sua,
não são respostas.
São esses fragmentos de sinceridade,
de amor em sua mais pura densidade.
Logo, temos a escolha de conectarmos uns aos outros,
ou permanecermos a vagar por aí,
sem resposta, sem nem ao menos entender a procura.
Escolhi outra vida,
e, sigo em direção a ela.
“Marina morena Marina” ele cantava.
E assim eu enxergava
ali contida,
do amor, a essência mais bela.