TRANSCENDÊNCIA
Há tempos que já me são caros,
não no-lo culpo pelas minhas frustrações,
tampouco, e não poderia jamais, remeter-lhe oferendas
Ora, pois, já que me foram de mim arrancadas,
noites e dias que esperava, ansioso e impaciente,
as andorinhas, loucas e livres, a atravessarem azulado céu
Eu que não contemplei a estrela cadente,
não pude, tendo dela me privado,
ansiar que desejo meu fosse realizado
Porém, mortal que sou nessa estrada por vezes percorrida,
não ignoro que cheio de falhas, ainda que tente delas manter distância,
sei que enquanto tal caminho transito, outras falhas cometerei
Fruto dessa árvore que evolui por força própria,
as andorinhas, loucas e livres, a atravessarem céu azulado,
não podem, pois que esse não ser seu ofício, inverter trajetória já traçada,
Assim elas vão qual porta-bandeiras, abrir o desfile para o grande espetáculo
Ora, queiram outros iguais a mim entender o que se passa,
tenho que não lhes cabem passarem o que a mim foi destinado
E se não rompo a noite e nem vibre com o dia,
como poderei, mesmo que saiba desmerecedor,
reclamar o premio que outro pertence?
Um nada a mim cabe, pois que, contrariando o que a todos se dizem por direito e legitimados, não serei eu o meliante a promover tamanha desfaçatez
Ora, mãe da terra e dona dos homens,
como podes, mesmo que filho não reconheças,
como podes ao céu rogar perdão por pecado cometido?
E chegada a noite, nebulosa, e quem sabe mesmo fria,
nada peço senão e apenas o cobertor que aquece
E se, já vencida a noite fria e nebulosa, for consentido para que fale,
nada de magnânimo minha boca pronunciará,
pois sendo eu fruto dessa árvore que avança em linha reta,
direi apenas e tão somente:
salvem as crianças para que não se construam presídios,
mas parques e jardins para que beija-flores
pousem anunciando a primavera