MÁGOA

Parei no bordo da passadeira, junto ao semáforo, quando ele ficou vermelho para os peões.
Chovia intensamente, senti-a como se fosse no meu coração. Era assim que andava há algum tempo, com a alma alagada de mágoa e tristeza.
Então vi-te, no passeio em frente, pequenina, procurando resguardar-te da chuva que caia incessantemente. Olhei-te como sempre te vi, frágil, encantadora, a mulher da minha vida. E ali estavas, tão perto, bastavam alguns passos e estaria junto de ti.
O semáforo ficou verde e atravessámos a passadeira, em passos rápidos. Cruzaste comigo mas nem para mim olhaste. Eu parei, olhei para trás, segui-te com o olhar e vi-te desaparecer na curva do quarteirão.
O meu coração sentiu um forte aperto e porque um automobilista tinha apitado, eu estava na passadeira já com o semáforo verde para os veículos, recomecei a caminhar em direção ao passeio oposto. E levei comigo essa dor da perda, tão difícil de descrever e tão destruidora.

 
8/01/2013