Fim
O que é a vida, senão uma preparação para o fim? Quando o sangue não corre mais nas veias e o ar não é mais inspirado pelos pulmões moribundos, o que nos resta de concreto são as lágrimas. Mas, em algum momento, nem que seja por alguns instantes, elas cessam e o que fica é o vazio. O vazio de uma cama, o vazio de um quarto, o vazio de uma casa, o vazio de alguém, o vazio de uma vida, um vazio que está fadado a nunca mais ser preenchido.
Não escolhemos nascer para morrer, apenas vivemos para esperar o dia de também nos tornarmos uma lacuna. Viver é difícil, mas quem disse que a morte é fácil? Em algum lugar, um monte de pele e ossos descansando até virarem pó; é o que sobra de quem um dia falou, sorriu, brigou, chorou, de quem viveu com você. Mas a presença permanece e assombra quem ainda sobrevive, até um dia também se transformar em lembranças e vagar na mente de alguém.
O medo é constante, lava a alma como uma fina garoa no frio de uma madrugada errante, escura e sem fim. Só se perde o medo quando se fecha os olhos pela derradeira vez. Feito alma penada, ele deixa seu rastro de insegurança e receio em dar-se o próximo passo a frente.
O silêncio é ensurdecedor, mas é preciso acostumar-se com ele. Resta parar, observar o manto branco de estrelas que nos cobre, respirar a paz da solidão e fazer do silêncio seu amigo.