Noites de janeiro

Claro que para aquelas almas dotadas de sensibilidade mineral, com a pedra impermeável aos fluídos do coração, as noites de janeiro devem passar batidas . Serão iguais a todas as outras, apenas com variáveis apresentações da lua e brilhos inconstantes das estrelas.

Para outras almas - e convém dizer que elas existem em abundância - as noites de janeiro serão sempre diferentes, não apenas no amontoado das horas de uma só , mas no conjunto de todas as madrugadas do primeiro mês do ano. São noites inaugurais ...

As noites de janeiro, diferente de todas as demais , descortinam o palco de um ano novo e na renovação que está implícita no presente divino que é mais um período do calendário a servir de cenário para o teatro da vida real . Nele somos todos os seres humanos protagonistas , coadjuvantes e figurantes ao mesmo tempo.

Se o texto só adquire sentido quando abandona o redator aquilo que chamamos de "letra fria" e permitimos que nele se insira o sentimento, então aí os vocábulos incorporam um algo a mais - um valor intangível - e o conjunto inteiro da redação adquire valores, ganha moral , transcende a barreira física do signo inerte ...

É assim que as madrugadas de janeiro devem ser vistas, como as noites que servirão de gestação aos sonhos que haverão de passar pelo milagre da mutação para tornarem-se concretas realizações , e depois - passados onze meses - chegue dezembro, época de balanço e de preparação para novas noites. Noites de janeiro ...