Eu risco o papel
e esse rabisco ainda não é poesia.
Eu penso,
depois penso o pensamento que pensou
o pensamento que pensa que pensou.
Nem este pensamento pensando é poesia.
Eu sinto antes de ver as coisas
e quando as vejo de novo sinto que sinto
as coisas que vejo e as coisas que não vejo.
E até o que vejo e não vejo, o que sinto e não sinto,
nada disso ainda é poesia.
Eu simplesmente quero,
mas nem este querer há de ser poesia.
Eu sonho um sonho dentro de um outro sonho,
mas nem o sonho que sonha estes dois sonhos
nem em sonho ainda vem a ser poesia.
Tenho que nascer a cada dia,
mas isto não é poesia.
Tenho de viver todo dia,
nem isto é poesia.
E sei que vou morrer um dia,
nem isto será poesia.

Poesia era tudo antes.
Poesia será tudo depois.
Poesia são os instantes
Do que não somos nós dois...

Mas nem isto,
porque muito antes disto
e muito depois disto
ainda não será poesia...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 04/01/2013
Reeditado em 25/04/2021
Código do texto: T4067041
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