Apenas minha expressão.

Certa vez cobraram-me um soneto.

Hesitei e contemplei a beleza do momento.

Muito antes, já tinha a certeza de que tal pedido viria.

Então, degustei todo o sabor das palavras, que saíam quase que de forma ensaiada:

--- Mas para quê? Não me apego às formas! Ora... minha poesia é vida, se minha existência não se encaixa em formas, nem fôrmas, qual o sentido de enjaulá-la em seu território mais puro e liberto? Se ao fazê-lo, com tanto afinco e zelo estaria me afastando do motivo primeiro que me faz avançar sobre o papel ou computador e assim, apenas por perfeccionismo, no fim, seu resultado haveria de ser menor, menor do que a vida, menor do que a mim.

Desta vez, desistiram do soneto, pediam-me então mais formalidade na composição.

Agora, não provei nenhum gosto, apenas um riso de canto de boca.

Não é impossível. Formal ou informal, meu traço depende do passo do meu coração. Não basta apenas refletir uma intenção pré-moldada, ser pernóstico por nada. O que vai ao papel me é trazido pelos ventos da vida, a minha arte é movida por algo além, por outro tempo, que não se satisfaz nos ponteiros de um relógio qualquer.

Porém não há embate nesse papo, a cumplicidade do leitor com o texto varia, como variamos todos, todos os dias. É esse encanto que me livra da continuidade, talvez da verossimilhança até. Isso não me traz alarde. Quero a lembrança fiel de um sentimento, quando me puser a revisá-lo em seu esboço primário. Assim saberei que ao atingir um coração, é sintonia pura o que faz a ligação, e não um texto cheio de ataduras, modificado, encerrado em sua métrica, tanto, que em seu elitismo, perde sua intenção.

Admiro quem o faz, não trago, absolutamente, repúdio em minhas palavras.

Ao invés, trago a teimosia de sair da redoma, a favor da individualidade, mas não da solidão, pois trazemos em nós mesmos dor, tristeza, angústia, felicidade, e, se conhecer é aprender a compartilhar. É mais do que obter resultados e aplausos, é saber que lotado ou entregue às moscas, subirei nesse palco e recitarei minhas palavras, ao vento, ou ao público atento, tanto faz. Se ao ecoarem, em alguma corrente potente, atingirem a mais alguém, saberei que assim, por ser tão verdade de mim, a empatia de apenas mais um, trará alívio à alma, pois o que queremos todos desde o início, é afago, é carinho, é união. Só não vendo meu caminho, por um punhado de tapas nas costas, se for assim, pra levar essa vida calma, de bosta, continuarei sozinho. Transcreverei as expressões mais cotidianas, se assim, a mim, vierem. Existir e somente existir, será então minha soberana resposta.

Atirem todas as pedras!

Com minha certeza piegas, lhes digo:

Jamais estarei de costas.

Raphael Moura
Enviado por Raphael Moura em 02/01/2013
Reeditado em 15/05/2013
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