CANHÕES
Patéticos doutos tribunos
Senhores da vida e da morte
Saciam-se diante do medo
Vangloriam-se das sentenças dadas
Depositários da desgraça imputada,
mas não condenam o sofrimento da fome
Eis!, dirão outros iguais frequentadores
da confraria porca amiga da mortalha, eis,
sob a magna Lei, aquele que nos garante o precioso metal, dirão
Patéticos, nada mais que patéticos
Ignoram sob o manto da falsa imparcialidade,
o desespero daquele que furtou o alimento,
porém, a lei, tão enaltecida,
não alcança o banqueiro, o desonesto homem público
e promove, com honrarias e deferências,
aquele que se apossa do trono
Eis!, dirá o povo, eis, nossos carrascos
Eis!, eles que nos condenam à morte
e também nos negam a sepultura
Não nos neguemos à revolta,
não calaremos e não seremos o cordeiro
A todo vapor, qual navio a romper o oceano
e a procela, avançaremos,
Dobraremos Poseidon, deus dos mares
Armas e canhões dos generais, não nos farão retroceder
Eis!, eis que somos o povo e eles apenas carrascos
"De pé, ó vítimas da fome
De pé, famélicos da terra"
Eis!, nosso chão e os nossos campos
Produziremos com nossas forças e nosso suor,
o alimento que nos roubam desde tempos jamais esquecidos
Não ao código
Não à toga
Não a toda vil e torpe maneira com que nos roubam
Sois, sois a morte de plantão
Sois o afoice mortal a rondar nossas vidas,
porém, acreditem, não retrocederemos
O relógio da história não para,
assim como, não barrarão nossa marcha
Jaz sobre o cadafalso o corpo inerte e frio do rebelde
Jaz, defronte dele, o beatificado ser remetente da pobre alma
Não retrocederemos, acreditem,
não retrocederemos pelos que partiram, e pelos que virão
Sabemos da nossa obrigação;
não nos furtaremos da luta, nem, acreditem,
seremos o cordeiro
Suas pálidas faces, amarelas e sem brilho,
não trazem o viço revigorante da nossa gente
Eis!
Eis, patéticos doutos tribunos
Eis, nossa sentença
Eis, nossa determinação
Não ao código
Não aos canhões
Não a toda forma de aliança
Não há aliança com o inimigo
"De pé, ó vítimas da fome
De pé, famélicos da terra"
Cantaremos, a plenos pulmões,
cantaremos o cântico da Liberdade