Cerejas
Nada restou do que poderia querer por salvação de mim.
Nem mesmo a sensação de perda me toma para servir-me de fuga.
Nunca me senti proprietária de algo além dos meus perfumes.
Há um deserto sedento, há um fogo que nenhuma água acalma.
Aquelas enxurradas oportunas sequer umedecem breves ideias.
Interrogações me seguem e as persigo durante todo o tempo.
Não é possível fingir alegrias, é intragável o meu baseado de gentilezas.
Nem quero mesmo rever minhas desistências; eram sobras de restos...
Para transpor minha falta de vontade era preciso que eu quisesse demais.
Eu, que jamais entendi como estacionei minhas células aqui, quero nada.
Os números mudam numa constância talvez necessária aos seres.
Muitos celebram, lamentam, calculam, planejam, choram, afloram...
A coisa toda muda numa sequência numérica que não entendo bem.
Vou cuidando dos meus perfumes enquanto o mundo explode.
Só observo vagamente; já é mais, muito mais que o suficiente para nada.
Enfadonhamente nada demais para quem está entediado de arder.
A droga é que detesto bolos, e as cerejas então? Jamais quis alguma delas.
Há um amoroso olhar sobre quem corre em busca de bolos e cerejas;
Mesmo as de mamão, coloridas artificialmente; é sim uma panaceia amorosa...