[A Chuva Não Lava as Chagas]
Finalmente, chove sobre o ermo do Desterro: abertas as comportas das águas do fim-de-ano! O outono está tão longe, tão longe que nem se cogita de meios-termos...
Embaixo das pontes, dos viadutos, os desvalidos espiam a chuva cair... tal como aqueles frangos espigados, abrigados sob a varanda do quintal da velha fazenda...
Inutilmente, os pobres invocam proteção, mas o seu clamor chega a um Deus vingativo, mau, que os odeia, os fustiga com a miséria e os mata de todas as pragas, desde que nascem, ou até antes!
Ao que parece, a chuva é um ácido, e mais inflama do que lava as chagas do mundo.
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[Desterro, 30 de dezembro de 2012]